A eficácia no uso de CBD em atletas

Por Ana Gabriel Baptista * | 03 de março de 2021

Na última década houve um aumento na produção científica sobre o canabidiol (CBD), devido aos seus benefícios na redução de náuseas e vômitos, combate a transtornos psicóticos, ação antiinflamatória, ansiolítica e antidepressiva e melhora na qualidade do sono, aumentando a sensação de bem-estar. Resultados apresentados na International Cannabinoid Research Society, relataram que o uso de CBD foi benéfico para o tratamento de inflamação, síndrome metabólica, sobrepeso e obesidade, síndrome de anorexia e caquexia, osteoartrite e outras condições musculoesqueléticas.

O dano muscular induzido pelo exercício (DMIE) pode resultar em uma condição conhecida, como dor muscular de início retardado (DMIR), comumente experimentada por indivíduos que foram fisicamente inativos por longos períodos de tempo e começaram uma prática inesperada de exercício físico, mas também pode ocorrer em atletas que se exercitam além dos parâmetros normais de treinamento. A manifestação de DMIR também pode ser causada por formas excêntricas ou desconhecidas de exercício. Os sinais clínicos incluem redução da força, dor, restrição de movimento, rigidez, inchaço (inflamação) e disfunção das articulações adjacentes. Embora a DMIR seja considerada um tipo leve de lesão, é uma das razões mais comuns para o comprometimento do desempenho nos esportes. Os sinais e sintomas de DMIR começam cerca de 6-12 horas após o exercício, aumentam progressivamente até atingirem o pico de dor 48-72 horas após o DMIE, e diminuem até desaparecer 5-7 dias depois.

A DMIR é uma das formas mais recorrentes de lesões esportivas que podem afetar o desempenho de um indivíduo e desencorajar a participação em mais atividades físicas ou exercícios. A dor muscular de início tardio é um tipo de lesão muscular ultraestrutural, e o papel da inflamação durante a lesão muscular induzida por exercício ainda não foi claramente definida.

É possível que a resposta inflamatória seja responsável por iniciar, amplificar e/ou resolver a lesão musculoesquelética. Diversas modalidades foram investigadas na busca por um tratamento que possa reduzir o efeitos ou buscar uma recuperação acelerada para DMIE e DMIR. Um elemento que não foi investigado é o papel que o óleo de canabidol (CBD) pode ter na recuperação dessas condições.

O óleo de canabidiol (CBD) é um constituinte natural da cannabis, popular canabinoide conhecido por seus benefícios medicinais. O canabidiol é geralmente considerado seguro e tem sido usado medicinalmente por décadas. Os canabinoides produzem seus efeitos principalmente interagindo com receptores específicos nas células do cérebro e corpo: o receptor CB1, encontrado nos neurônios e na microglia em várias partes do cérebro, e o receptor CB2, encontrado principalmente no sistema imunológico do corpo, nos quais fazem parte do Sistema Endocanabinoide. Também está crescendo o número de evidências que afirmam a atuação do CBD em outros sistemas de sinalização cerebral, e que essas ações podem ser contribuintes importantes aos seus efeitos terapêuticos, que incluem uma resposta anti-inflamatória significativa. Embora estudos tenham demonstrado os efeitos calmantes, antiinflamatórios e relaxantes do CBD em uma série de condições, pesquisas sobre o uso de canabinoides para DMIE e DMIR estão em falta. Um estudo estadunidense buscou determinar a influência do óleo de CBD sobre essas condições.

Uma pesquisa mediada por placebo com um grupo de atletas apresentando DMIE e DMIR, indicou  que o consumo do óleo de CBD imediatamente após dano muscular induzido pelo exercício tem um influência significativa na redução de DMIR comparado àqueles que consumiram uma dose de placebo. Após 48 horas, pós-DMIE, o grupo que utilizou CBD relatou um nível de dor mais alto. Isto é consistente com evidências que apontam picos de dor em aproximadamente 48 horas após o exercício. Este aumento da dor foi seguida por um declínio em um período após 72 e 96 horas.

A dor muscular de início retardado é uma das razões mais comuns para deficiência no desempenho muscular em esportes e está associada à dor muscular, fraqueza e redução da amplitude do movimento, e é frequentemente observada tanto em atividades de atletas profissionais quanto recreativas. Normalmente ocorre após um aumento na intensidade ou volume de treinamento, ou quando o cronograma de exercícios é alterado. O grupo de atletas que utilizou o óleo de CBD relatou níveis reduzidos de dor nos respectivos períodos de 24 horas. Esta redução da dor pode fazer com que o atleta volte ao treinamento mais cedo do que um atleta com um elevado nível de dor. No entanto, ainda não é totalmente compreendido como o CBD interage com o corpo para influenciar a DMIE.

O mecanismo de ação do CBD é multifacetado. Esses mecanismos subjacentes de ação endocanabinoide consiste na interação de receptores canabinoides específicos (CB1, CB2) com seus ligantes endógenos, como anandamida (o principal canabinoide endógeno do cérebro) e 2-AG (2- araquidonilglicerol). Os receptores CB1 estão localizados principalmente no cérebro e modulam a liberação de neurotransmissores de uma maneira que evita a atividade neuronal excessiva, acalmando e diminuição da ansiedade, reduz a dor, diminui inflamação, regula o movimento e o controle da postura e controla a percepção sensorial, memória e cognitiva função.

Existem mais receptores CB1 no cérebro do que todos os receptores de dopamina, noradrenalina e serotonina combinados e dez vezes mais do que os receptores opioides. A anandamida e 2-AG estão presentes no mesmas áreas dos receptores CB1. Anandamida, um endógeno produzido naturalmente em nosso organismo, liga-se ao receptores CB1 através do sistema de acoplamento de proteína G. O canabidiol tem um efeito indireto sobre os receptores CB1 ao parar a quebra enzimática da anandamida, permitindo que ela permaneça no sistema por mais tempo para fornecer seus benefícios medicinais. Além disso, a 2-AG modula os receptores de dor inibindo a hiperalgesia mecânica e a neuroinflamação. O canabidiol também provoca efeito moderado nos receptores CB2, que estão na periferia do tecido linfóide, ajudando a mediar a liberação de citocinas das células do sistema imunológico, contribuindo com a redução da inflamação e da dor.

Destaque: Ana Gabriela | Arquivo

Considerando esses efeitos diversos e variados do CBD sobre o organismo, não é de se admirar que, no estudo, o óleo de CBD apresentou efeito positivo no combate da dor muscular. O dano muscular induzido pelo exercício é projetado para estimular dores musculares por meio de inflamação, resultando em dor. É essa inflamação e dor que inibe o movimento pós-DMIE. Numerosos estudos já relataram que o CBD tem uma influência significativa na inflamação e na dor. Além disso, é comum sintomas de ansiedade e depressão serem desenvolvidos devido ao desconforto prolongado, promovendo ainda mais os sentimentos de dor resultantes do DMIE, no entanto, os resultados da pesquisa indicam que o CBD também exerce efeitos positivos nesses sintomas. Por último, o CBD tem influência sobre os receptores CB1, que resulta em efeitos para o movimento e controle da postura.

Em suma, o estudo indicou que o indivíduo pode continuar um padrão de movimento normalmente após um episódio de DMIE mais cedo, após ingerir o óleo de CBD. A quantidade de CBD a ser usado para cada condição respectiva ou resultado desejado não é conhecido, dependendo, inclusive, do estado de inflamação em que o indivíduo se encontra no momento do uso, seu histórico alimentar, condições genéticas, massa corporal, composição corporal e padrões de sono. Mais pesquisas devem investigar o papel do CBD junto a condições de nutrição, sono, tipo de exercício e outros fatores que tem na capacidade de atenuar os efeitos do CBD no dano muscular induzido pelo exercício e ajudar na processo de recuperação.

Referência: Andrew Hatchett, Kaitlyn Armstrong, Brittany Hughes and Brian Parr. The influence cannabidiol on delayed onset of muscle soreness. International Journal of Physical Education, Sports and Health. 2020.

* Ana Gabriela Baptista é Fisioterapeuta especialista em reabilitação e qualidade de vida. Consultora Técnica em Terapia Canabinoide – www.instagram.com/baptistaanagabriela

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