Com visões distorcidas (e desinformação) Ministério lança cartilha para convencer sua base ideológica

Por Redação | 28 de junho de 2022

Enquanto a Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis (ABICANN) informa ser positivo o cenário econômico e os impactos nos setores sociais e produtivos que a planta Cannabis sativa pode gerar aos brasileiros, se cultivada e industrializada no País, há ministérios do Governo Federal que têm atacado e gerado confusão proposital, a fim de desqualificar qualquer tipo de ciência, encontrada nessa… planta.

O Ministério da Cidadania lançou uma cartilha, com o objetivo de influenciar política públicas sobre “os riscos do uso e da maconha e de sua legalização”, confundindo o público, logo no título. Até aqui, já temos o tom do material oficial do Governo Federal.

Analisado por profissionais da saúde de mercados e, principalmente, pacientes de Cannabis Medicinal, esse guia que está online traz uma abordagem tendenciosa e politizada – com linguagem trabalhada para mascarar ideologia ultraconservadora, sem reflexões reais – para tratar de assuntos tão sérios. Segundo o conteúdo do governo: “há indicativos fortes” sobre “os prejuízos à saúde, além de sociais e econômicos”, e traz, ainda, um olhar atrasado e enviesado sobre: “a experiência de outros países que optaram pela flexibilização do controle da droga”. Vale a pena conferir o material, mas prepare o coração!

O lançamento oficial ocorreu em 22 de junho de 2022, durante o IV Seminário Intersetorial de Prevenção, Conscientização e Combate às Drogas, realizado como parte da programação da 24ª Semana Nacional de Políticas sobre Drogas.

Esse evento ocorreu por meio da Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas (Senapred) e que destaca o “fracasso de experiências de legalização e de flexibilização do controle sobre a maconha em outros países”. A cartilha foi elaborada em conjunto com os ministérios da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (Damares Alves), da Saúde, da Infraestrutura, e da Justiça e Segurança Pública.

Bilhões à espera de um governo que preste atenção na Cannabis

De acordo com a ABICANN, quando forem regulados a Cannabis/Cânhamo para uso em mais de 200 perfis de indústrias, podemos atrair mais de USD 30 bilhões ao ano. Se mudasse de postura, a União recuperaria um espaço em praticamente 95% da cadeia produtiva que compreende “as indústrias da Cannabis”.

Genética, Laboratórios, Agricultura, Indústrias de Processamentos e Exportação o Brasil não participa, atualmente! Ficando presos somente a uma pequena participação na cadeia Logística, importando Produtos de Cannabis. Até quando, questiona a ABICANN?

A associação de defesa econômica da Cannabis pede atenção imediata dos governos, setores produtivos e da sociedade. Acompanhe a Carta Pública que a única entidade associativa empresarial/industrial, com olhar para a economia e pesquisa nacional:

CARTA_PUBLICA_ABICANN-AOS-PODERES-EMPRESARIADO-SOCIEDADE

Governo brasileiro na contramão

Enquanto setores produtivos pedem apoio, o governo atual insiste em tratar as matérias-primas da planta Cannabis sativa pps. como “DROGA DA MORTE”. O que não faz o menor sentido, além de propagar preconceitos e desinformação. Essas visões de quem está atualmente nos comandos do Governo Federal são distorcidas e beiram à desonsetidade intelectual, prejudicando a economia do País e mostrando-se combativos aos resultados positivos das ciências, prol vida e bem-estar social.

Enquanto a desinformação corre solta, pesquisadores brasileiros são os que mais colaboram com a temática medicinal no mundo. Você sabia que a maior produção científica mundial sobre canabidiol vem da Universidade de São Paulo? Em artigo científico internacional, quatro professores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto aparecem entre os dez mais produtivos na área, segundo o Jornal da USP.

Análise bibliométrica dos 1.167 artigos científicos publicados entre 1940 e 2019, e considerados de relevância científica pelas principais bases de dados, coloca a Universidade de São Paulo (USP) em primeiro lugar como a instituição que mais publica artigos sobre o canabidiol (CBD) no mundo. A Universidade tem mais que o dobro da segunda instituição, o King’s College London, do Reino Unido, seguida em terceiro pela Universidade de Jerusalém, em Israel e, em quarto, pelo Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos Estados Unidos.

O estudo Global Trends in Cannabis and Cannabidiol Research from 1940 to 2019, publicado na revista Current Pharmaceutical Biotechnology, utilizou três softwares para analisar desempenho de países, instituições, autores e periódicos, que revelaram tendências evolutivas de diferentes categorias de pesquisas. 

Para chegar aos resultados, os autores não se restringiram apenas ao número de publicações. Combinaram diversos parâmetros bibliométricos, em especial o número total de produção, o escore global de citação e o índice-h (indicador de desempenho que analisa de forma quantitativa a produção científica de um autor, medindo, ao mesmo tempo, a sua produtividade e o número de citações recebidas de outros pesquisadores). O desenvolvimento histórico foi dividido em três etapas, concentradas nos aspectos de química, farmacologia e biologia molecular da Cannabis sativa em geral. 

Os professores Francisco Silveira Guimarães, Antonio Waldo Zuardi, José Alexandre Crippa e Jaime Hallak, todos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) USP, estão entre os 10 pesquisadores do mundo que mais publicam, ocupando o primeiro, segundo, quinto e sétimo lugares, respectivamente. Os 1.167 artigos avaliados foram publicados por 62 países diferentes, com Estados Unidos, Reino Unido, Itália, Brasil e Canadá, liderando as publicações; 884 artigos de pesquisa e 283 de revisão.  

Francisco Guimarães – Foto: FMRP/USP

Para Guimarães, “é sempre uma satisfação ter o seu trabalho reconhecido por terceiros. É preciso salientar que estou longe de ser o pesquisador mais importante, ou mesmo um dos mais importantes nesta área. Esta posição, para canabinoides em geral, pertence, na minha visão, ao professor Raphael Mechoulam [da Universidade de Jerusalém], com quem tenho o prazer de colaborar há 30 anos”, diz.

Ainda, segundo o professor, o artigo deixa claro que um dos grupos mais importantes nesta área é o da USP de Ribeirão Preto, que inclui os professores Antonio Waldo Zuardi, reconhecido mundialmente como um dos pioneiros desta área, José Alexandre Crippa e Jaime C. Hallak e, mais  recentemente, outros pesquisadores do campus com atuações nas áreas básicas e clínicas.

“Alguns mais jovens e formados neste grupo têm se associado a esta pesquisa e produzido contribuições importantes, destaco os professores Alline C. Campos, Samia R. Joca, Felipe V. Gomes, Elaine Ap. Del Bel, Sabrina Lisboa e Leonardo Resstel.”

Essa não é a primeira vez que a USP ganha destaque internacional pelas pesquisas com o canabidiol. No ano passado 2019, foi tema de reportagem no jornal The New York Times e de ampla cobertura na revista Nature.

Cooperações nacionais e internacionais 

Reino Unido, Israel, Estados Unidos e Itália têm, cada um, duas instituições entre as dez mais produtivas; já Austrália e Brasil (USP) tem somente uma instituição cada. O Reino Unido lidera como país que tem maior colaboração internacional, seguido de Estados Unidos e Brasil. O King’s College London foi a instituição que mais colaborou com a USP. “Observa-se que as instituições com mais artigos publicados têm uma cooperação mais estreita entre si em comparação com aquelas com menos artigos publicados”, destaca Guimarães. 

E o professor cita justamente o trabalho colaborativo que mantém com diversos grupos nacionais e internacionais nesta área como o fator que o coloca em primeiro lugar em número de publicações no artigo. Esse trabalho conjunto, sobre o CBD, Guimarães iniciou em projeto paralelo ao doutorado, orientado pelo professor Antonio Zuardi, em 1987, no Departamento de Farmacologia da FMRP, onde foi contratado como docente no mesmo ano.

“Embora meus trabalhos, até aquele momento, tenham sido na área clínica, inclusive com o CBD, iniciei meus estudos com animais de laboratório neste período. Desde então, minha pesquisa vem se concentrando cada vez mais na área pré-clínica.”

Guimarães se destacou com trabalhos na área de ansiedade; mostrou que o CBD produz efeitos ansiolíticos em diversos modelos animais, bem como os possíveis mecanismos envolvidos nestes efeitos, o que foi lembrado pelos autores do artigo: “Os pesquisadores da USP foram os pioneiros em demonstrar os efeitos ansiolíticos e antipsicóticos do CBD em animais e, posteriormente, em humanos, desde 2012”. E, ainda, destacam que o grupo do professor Crippa vem trabalhando nos efeitos farmacológicos e ensaios clínicos de CBD, tendo encontrado evidências consideráveis das ações anti-inflamatória, antioxidante e neuroprotetora do CBD. “Acredito que a USP em Ribeirão Preto seja singular na interação entre a pesquisa básica e clínica com o canabidiol, pois os pioneiros nesta área na nossa Universidade sempre semearam o espírito de colaboração de modo sinérgico e recíproco”, enfatiza o professor Crippa. 

Tabela: Reprodução / Revista Current Pharmaceutical Biotechnology

Pioneirismo

A primeira publicação de pesquisa sobre o CBD surgiu em 1940 e o pico das publicações aconteceu em 2019, com 248 artigos. O período de 2004 a 2012 concentrou o maior aumento de publicações, segundo a análise bibliométrica. 

O bioquímico búlgaro-israelense Raphael Mechoulam desvendou as estruturas químicas de vários compostos da Cannabis e, em 1960, testou seus efeitos em seus amigos, misturando cada uma delas à massa de bolos. Nesse experimento “culinário”, ele observou que somente os que comeram bolo com o THC (tetra-hidrocanabinol) apresentaram os efeitos típicos da droga.

Já na década de 1970, a ação farmacológica antiepiléptica do canabidiol foi desvendada pelos brasileiros Elisaldo Carlini e Isaac Karniol, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); este último foi orientador de doutorado do professor  Zuardi, que deu continuidade a essas descobertas, com seu grupo na FMRP, onde atua há mais de 40 anos. 

Antônio Zuardi – Foto: FMRP/USP

O grupo criado a partir de orientados e colaboradores do professor Zuardi também faz parte do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia Translacional em Medicina (INCT-TM), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que é coordenado pelos professores Jaime Hallak, também da FMRP, e Flavio Kapczinski, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 

Ainda em 2020, o grupo passou a fazer parte da rede acadêmica CannaLatan, que incluiu grupos de pesquisa básica e clínica, além de empresas farmacêuticas especializadas, para promover “a investigação científica sobre os efeitos terapêuticos dos canabinoides em doenças neurodegenerativas e neuropsiquiátricas. Participam  mais de 60 pesquisadores de oito países, incluindo, além do Brasil, Argentina, Bolívia, Costa Rica, Espanha, México, Portugal e Uruguai.

Na USP, a coordenação é do professor Francisco Silveira Guimarães e tem a participação dos pesquisadores Alline Cristina de Campos, Rubia Maria Monteiro Weffort de Oliveira, Felipe Villela Gomes, todos da FMRP, além de Elaine Aparecida Del Bel Belluz Guimarães, da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp), e Sâmia Regiane Lourenço Joca, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP). Veja matéria no Jornal da USP.

O pioneirismo do grupo também se reflete nos resultados das pesquisas. Em maio, o laboratório Prati-Donaduzzi, no Paraná, colocou nas farmácias de todo o País o primeiro extrato de canabidiol desenvolvido no Brasil, graças a uma parceria entre a indústria farmacêutica e o grupo da FMRP, liderado pelo professor Zuardi. A venda está condicionada à apresentação de receituário tipo B (azul), de numeração controlada, a exemplo do que já ocorre com calmantes, antidepressivos e outras substâncias psicoativas que atuam sobre o sistema nervoso central. Leia a trajetória completa das pesquisas até a chegada do medicamento nas farmácias aqui

A parceria com o laboratório paranaense também resultou na construção do primeiro Centro de Pesquisas em Canabinoides do País. Criado para a pesquisa e desenvolvimento de medicamentos contendo canabinoides, substâncias derivadas da maconha, o espaço reunirá trabalhos do grupo de pesquisa de Ribeirão Preto e terá alas destinadas ao estudo básico de laboratórios e à pesquisa clínica com pacientes e voluntários saudáveis.

Segundo o professor Zuardi, “o centro deve aumentar ainda mais os estudos colaborativos para os resultados chegarem mais rapidamente aos pacientes e seus familiares, reduzindo o sofrimento e melhorando a qualidade de vida dessas pessoas”.

A rede de colaborações internacionais entre as instituições mais produtivas é mostrada na Fig. (4A). O maior círculo azul escuro representa a USP e os círculos vermelhos representam as instituições com as quais a Universidade brasileira cooperou. Quanto maior o círculo vermelho, mais próxima é a cooperação. A instituição que mais colaborou com a USP foi o King’s College London. Pode-se observar que as instituições com mais artigos publicados tem uma cooperação mais estreita entre si em comparação com aquelas com menos artigos publicados – Infografia: Reprodução / Revista Current Pharmaceutical Biotechnology

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