Singapura: Cérebro de idosos envelhece e uso de maconha acelera esse envelhecimento

Paulo Markun/Blog Em Tempo/Folha de S. Paulo

Oito pesquisadores, liderados pelos professores Juan Helen Zhou, um neurocientista do programa de Neurociência e Transtornos Comportamentais e Michael Chee, diretor do Centro de Neurociência Cognitiva da Faculdade de Medicina da Universidade de Duke-NUS, em Singapura, examinaram o a arquitetura funcional do córtex cerebral de 57 jovens e 72 idosos e constataram que os mais velhos apresentaram perda da segregação funcional, isto é, a habilidade de encaminhar o processamento de determinados processos para regiões específicas e conectadas entre si, o que se traduziu em pior desempenho em todos os testes. Os idosos não tinham nenhum problema de saúde específico, eram apenas velhos.

O córtex cerebral é uma camada fina de substância cinzenta que recobre todo o cérebro. Recebe os impulsos de todas as vias de sensibilidade, interpretando e respondendo a essas informações. Controla os movimentos voluntários, mas também tem a ver com fenômenos psíquicos.

Cada participante idoso foi convidado a relaxar com os olhos abertos e permanecer imóvel enquanto eram realizados testes neuro-psicológicos de sua capacidade de concentrar a atenção, lembrar informações verbais e visuais, planejara e executar tarefas. Tudo acompanhado por medições da flutuação do nível de oxigenação do cérebro. Isso, duas a três vezes ao longo de quatro anos.

A comparação das imagens digitalizadas levou os cientistas a relacionar o envelhecimento saudável a mudanças na organização modular funcional do cérebro, acompanhada de perda de segregação funcional, particularmente nas redes mais especializadas. O próximo passo do trabalho será buscar estratégias que possam preservar a função cognitiva de quem envelhece.

Mas o que acontece com cérebros que apresentam problemas ou pertencem a indivíduos com determinados hábitos e envelhecem prematuramente? Uma resposta impactante saiu do maior estudo de imagens cerebrais conhecido, realizado pela equipe da Amen Clinics, do Google, da John Hopkins University, e dos centros da Universidade da California em Los Angeles e San Francisco.

A equipe liderada pelo fundador da clínica, o psiquiatra Daniel G. Amen, avaliou 62.454 tomografias computadorizadas de mais de 30 mil indivíduos entre nove meses e 105 anos. Cada paciente foi submetido às varreduras de emissão de fóton único, conhecidas pela sigla SPECT mais de uma vez. Esse procedimento registra o fluxo sanguíneo no cérebro. Os pesquisadores dividiram o cérebro em 128 regiões para prever a idade cronológica dos pacientes. E quando a idade apresentada pelos cérebros era maior que a idade real dos indivíduos, isso foi classificado como um caso de envelhecimento acelerado.

Muitos fatores podem provocar tal fenômeno. No topo da lista está a esquizofrenia, que acelera o envelhecimento cerebral em quatro anos na média. A esquizofrenia, que pode ser causada por fatores genéticos, uma perturbação mental caracterizada por comportamento social fora do normal e incapacidade de distinguir o que é ou não real. Mas o segundo lugar é claramente opcional: o abuso do uso da maconha acelera o envelhecimento em 2,8 anos. Em terceiro lugar, está o transtorno bipolar (1,6) e em quarto, o TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (1,4) anos. O abuso do álcool também causa esse envelhecimento, mas em escala menor: 0,6 anos em média.

O dr. Amen não mede as palavras ao definir os efeitos da cannabis sobre a saúde do cérebro: “A maconha foi uma das piores coisas para acelerar o envelhecimento. Nós suspeitávamos que o álcool e o cigarro fariam isso, mas a maconha era pior, de acordo com nosso estudo.”

Vale registrar que o psiquiatra não condena os programas de descriminalização da maconha, dizendo, com outras palavras, que uma coisa é uma coisa e outra coisa…outra coisa. Um dos psiquiatras mais populares dos Estados Unidos, Amen tem oito best sellers nas livrarias. Change your brain, Change your Life (Mude seu cérebro, mude sua vida) mistura informação científica com dicas práticas. Amen sugere três maneiras de ajudar a minimizar o risco e proteger o cérebro: ame seu cérebro, preocupe-se com ele; evite qualquer coisa que o machuque – fumo, álcool, maconha, pressão alta, obesidade e diabetes – e desenvolva hábisos saudáveis, entre os quais exercícos, meditação e uma dieta com largo consumo de ácidos graxos ômega 3, presentes em peixes de águas profundas e linhaça, por exemplo. Mas uma resenha da obra publicada nos Estados Unidos aponta que 80% dos pacientes de sua clínica receberam medicação para tratar de seus problemas.

Psicóloga e neurocientista, a irlandesa Sabina Brennan é autora de 100 Days to a Younger Brain – Cem dias para um cérebro mais jovem, em tradução livre. Ex-atriz, que só foi estudar psicologia depois dos 40 e acabou se especializando em neurociência, ela faz palestras mundo afora e difunde conselhos que, garante, vão melhorar nosso desempenho mental, como dormir o suficiente, controlar o stress, manter o coração saudável, fechar a boca, exercitar-se. Reconhece que nada disso garante que você chegue à velhice com a cuca fresca, mas completa: ela mesma tem o hábito de fazer pausas no trabalho para fotografar os pássaros de seu jardim entre um texto e outro. E de passear com seus três cães, Dizzy, Daisy e Scruffy, que sempre a fazem sorrir – esta sim, assegura, sua dica favorita para a saúde do cérebro.

Enquanto você fica aqui, vou lá fora atrás dos pássaros…com um sorriso nos lábios.

Fonte: Folha de S. Paulo e JNeurosci/Singapura

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